quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Hotel Memória



















  • Um pouco sobre o autor
João Tordo nasceu m Lisboa e é filho do cantor Fernando Tordo e de Isabel Branco, desde cedo que é ligado ao cinema  mais tarde ligou-se à moda. É formado em filosofia e estudou em Londres e em Nova Iorque jornalismo e escrita criativa. Trabalhou como jornalista e guionista. Já publicou diferentes romances e já foi galardoado com o prémio jovens criadores e o prémio José Saramago.
João Tordo atrai os leitores para as suas obras, uma vez que encadeia várias narrativas, usa o carácter emocional e, para além disso utiliza nos seus romances o mistério.

  • Sinopse (na contracapa do livro)
"Onde termina a culpa e começa a expiação? Em Nova Iorque, um estudante apaixona-se por uma rapariga enigmática com quem vive uma intensa relação. Mas a morte desta, inesperada e violenta, enche o protagonista de culpa e remorso, lançando-o numa espiral descendente até o transformar num vagabundo, sem dinheiro e sem posses. Prisioneiro do Memory Hotel, um pardieiro na Baixa de Manhattan que parece destinado a albergar criaturas perdidas como ele próprio, é contratado por Samuel, um milionário excêntrico, para procurar um fadista português emigrado para os Estados Unidos quarenta anos antes.
Tendo Nova Iorque como pano de fundo, dos anos sessenta até ao presente, e criando a figura inesquecível de Daniel da Silva, o fadista que conquista Manhattan com o seu talento, Hotel Memória é, ao mesmo tempo, um romance de mistério e uma aventura nos meandros da condição humana - uma história simultâneamente intrigante e comovente, que lida com os fantasmas da memória, da culpa e da redenção."

  • A meio do livro...               
 " «Chamo-me Samuel»
    Sentou-se na cadeira oposta e olhou-me com desconfiança. Tentei não parecer nervoso, mas gotas de suor começavam a brotar na minha testa pálida. Era o mesmo homem que tinha estado no funeral da Kim, o mesmo que vira no restaurante"..."Ele enfiou a mão dentro do bolso e retirou um recorte de jornal, depois colocou-o em cima da mesa. Era uma página de classificados, e existiam vários anúncios sublinhados a tinta vermelha. Os anúncios eram de investigadores privados a oferecerem os seus serviços.
   «Há centenas de tipos em Nova Iorque que poderiam fazer o trabalho que lhe venho oferecer, como pode ver por esta página»
   «Porquê eu, então?»
   «Você é diferente.»
   «Explique-me.»
   «Em primeiro lugar, irá trabalhar pelo salário que eu lhe oferecer. Não está em condições de exigir nada.»"... "«...Trata-se de um caso extremamente delicado em que apenas um homem, por assim dizer, virgem no terreno, poderá ser bem sucedido.» "
                                                                    João Tordo, em Hotel Memória

     Este excerto do livro retrata-nos o momento em que Samuel contrata Ismael para um trabalho de investigação.
    Após já ter perdido tudo aquilo que valorizava: a sua amada Kim, a sua bolsa de estudo, o seu curso, e mais tarde o seu trabalho no Kim`s, Ismael sente-se perdido. Com o pouco dinheiro que lhe resta decide instalar-se no Memory Hotel e lá permanecer até o seu dinheiro acabar. Quando as suas posses se esgotam Ismael é confrontado com Samuel que lhe oferece uma proposta de emprego, na qual poderia fazer aquilo que sempre quis, ser detective.
   Quando terminei a leitura desta excerto, comecei a especular sobre qual seria a atitude do protagonista. Imaginei então a seguinte situação: Ismael provavelmente aceitará a proposta, primeiro porque não tem dinheiro e sem a ajuda de Samuel não conseguirá manter-se instalado no Memory Hotel; e segundo, Samuel continua a ser um mistério para Ismael, a sua relação com a sua amada Kim. Concluí então que seria inevitável para o narrador aceitar a proposta. Ao mesmo tempo comecei-me a questionar sobre o objectivo daquela investigação, o que quereria Samuel que Ismael investiga-se. Pelo que tinha lido na contracapa do livro, sabia que aquela investigação teria alguma coisa a ver com o fadista português desaparecido, talvez a sua descoberta, mas em concreto não sabia o que seria. Por outro lado, imaginei que fosse qual fosse o trabalho que Ismael ia fazer deveria ser o mesmo que Kim fazia, uma vez que Manuel tinha dito, anteriormente, a Ismael que ela tinha um trabalho misterioso e, como Samuel se encontrava no seu funeral deviam ter algum tipo de relação.
   Em relação ao final do livro espero que a relação entre Kim e Samuel seja desvendada, assim como o paradeiro do fadista português. E, por fim espero que Ismael encontre o seu lugar e se encontre a si mesmo de maneira a conseguir prosseguir com a sua vida.

  • A minha opinião sobre o livro...  
   Gostei bastante desta obra, avaliando-a com 5*, por esta razão aconselho a sua leitura a todas as pessoas que gostam de mistério, investigação e se interessam por conhecer o lado mais “negro” de Nova Iorque.
   A intriga é um dos pontos fortes deste livro, uma vez que é bem enredada e que envolve diferentes histórias, umas dentro de outras.
   Um dos momentos que mais me marcou foi a morte de Kim, uma vez que é a partir daí que a história realmente começa. Ou seja, é partir desse momento que Ismael tem de recomeçar a viver, e é durante esse percurso que se depara com diferentes realidades. Outro dos momentos que me surpreendeu foi quando Samuel foi ter com o narrador para o empregar. Sempre pensei que Samuel tivesse algo a ver com Kim, mas nunca me passou pela cabeça que Samuel tivesse interesse em contratar Ismael para desenvolver um trabalho começado por Kim. Daí este encontro ser bastante inesperado para mim, despertando-me uma certa curiosidade, em relação ao desenrolar da história.
   Ainda dentro da intriga são de realçar as personagens, uma vez que todas têm algo a contar, ou algo a esconder. Como é de prever a personagem que mais me marcou foi Ismael, por ser sobre ele toda a história e por lhe acontecer de tudo. Ele perde a sua amada, a sua bolsa, o emprego que conseguiu no Kim`s, leva uma tareia que o afectará para sempre, realmente é uma pessoa com pouca sorte.
   Esta obra é repleta de suspense e mistério, daí pertencer ao grupo de leituras que me atraíem, apesar de por vezes ter situações previsiveís através de informações já obtidas anteriormente.
   “Hotel Memória” tem uma vantagem para os leitores que não gostam de muita descrição, uma vez que não a tem em exagero, tem apenas a necessária para uma pessoa se poder localizar e imaginar o ambiente.
   Durante a leitura do livro passei por diferentes estados emotivos: “senti” a tristeza do narrador, alegrei-me com a felicidade de Ismael, houve momentos em que fiquei frustada e outros em que senti pena. Todos estes estados emotivos foram mais acentuados devido à escrita em 1ª pessoa que nos aproxima mais da história e da personagem, sendo mais este um ponto de interesse nesta obra.
   Atraíu-me particularmente os conhecimentos geográficos que obtive com este livro, uma vez que Nova Iorque é uma cidade que gostava de visitar, e ter conhecimentos dela é sempre agradável.
   Esta obra ajuda-nos a reflectir sobre o outro lado das grandes cidades, o lado que não é divulgado, que não aparece nos postais turisticos, mas que está lá e é a realidade para muitas pessoas. Faz-nos perceber um pouco o mundo da Máfia, de como os criminosos têm muito poder e podem fazer desaparecer quem lhes apetecer sem que sejam punidos, constituindo desta forma uma crítica social. Ao mesmo tempo, reflectimos sobre o voltar a viver, o conseguir ter de novo um objectivo na vida depois da morte de alguém muito querido e amado. Se é possível voltar ao mesmo, voltar a ter momentos felizes, é nisso que se centra esta história, Ismael vai procurando Daniel da Silva, mas ao mesmo tempo procura-se a si. Acho que estas reflexões são importantes, sendo uma possível atração do livro.